Flores murchas em jarras paradas

"Invade-nos um sentimento de frio
flores murchas em jarras paradas
fotografias que perderam cores e magia
cartas de promessas e tintas invisíveis.
Aquela concha, aquela pedra, aquela vela
um cachimbo esquecido num cinzeiro
cheiramos o tabaco doce e seco
avivando presenças que foram despedidas.

Vêm-nos imagens de um momento
um sorriso, um olhar, um convite ao luar
cerramos os olhos para não poder ver
como se fechados apagassem a memória
e é calmo e discreto o chorar por dentro.
Um dia após o outro
o sol e depois a lua
as noites vazias de as tornarmos claras
as mãos caídas, tolhidas, esquecidas
de gestos tão perfeitos de dormentes.
Estamos sós e somos de ninguém
num abraço que só nós nos podemos dar
esperando por uma misericórdia
divina
que sabemos chegar nunca.


E é então que dores passadas
saram estas feridas novas
com sabedoria de remédio antigo."

Eyes of China Blue



Pauline Dekker

Alone in the crowd, Pavlov's Dog